Chefe do Laboratório de Imunologia (LIM 48) do HCFMUSP traz atualizações sobre o surto de sarampo no Brasil

13 de agosto de 2019

O número de casos confirmados em 2019 é dez vezes maior que o número de casos confirmados nos últimos vinte anos no Estado de São Paulo. A professora Marta Heloísa Lopes destaca a importância da vacinação, que é altamente eficaz para a prevenção da doença

(Foto: Área de Comunicação Institucional dos LIMs)

Em meio ao alerta da comunidade médica com o surto de sarampo no Brasil, o Instituto de Medicina Tropical (IMT) promoveu em 09 de agosto uma aula aberta com a chefe do Laboratório de Imunologia (LIM 48) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), Marta Heloísa Lopes, sobre a atual condição da doença no país.

O boletim epidemiológico do Centro de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo aponta que foram registrados 4.138 casos suspeitos de sarampo (967 confirmados, 513 descartados e 2.658 em investigação) entre janeiro e julho de 2019 no Estado de São Paulo, sendo que 92% dos casos confirmados estão na grande São Paulo.

O número de casos confirmados até então em 2019 é mais de duas vezes maior que o número de casos confirmados nos últimos vinte anos. Entre 1998 e 2018, foram registrados 407 casos confirmados no Estado de São Paulo. A última epidemia no Estado de São Paulo ocorreu em 1997 com 23.909 casos confirmados.

De acordo com Lopes, outra diferença entre o cenário de 2019 e o cenário de 1997 é a manifestação do sarampo. Em decorrência da campanha de vacinação contra o sarampo que começou em 1972 no Brasil, os sintomas que são coriza, erupções vermelhas na pele, febre, irritação nos olhos e tosse podem estar mais atenuados hoje em dia.

“O que estamos vendo em parte dos casos é o sarampo entre pessoas que tomaram a vacina no passado. A proteção foi suficiente para atenuar o quadro clínico, mas não foi suficiente para afastar a doença. Os casos são leves, com exantemas [manchas vermelhas na pele] mais frustros [mais leves], febre mais baixa e nem sempre com nariz escorrendo e olhos lacrimejando.”

O diagnóstico diferencial do sarampo deve compreender outras infecções virais que provocam febre e manchas vermelhas na pele. Segundo a Professora Associada do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias da FMUSP, o diagnóstico diferencial também deve ser feito para chikungunya, dengue e zika atualmente.

“A chikungunya, dengue e zika costumam causar artralgia [dor nas articulações] e mialgia [dor muscular], o que é muito pouco frequente no sarampo. A dor atrás dos olhos é muito frequente na dengue, mas pouco frequente no sarampo também. Já a coriza e a tosse seca estão ausentes na chikungunya, dengue e zika e são mais frequentes no sarampo.”

CASOS IMPORTADOS

Desde 2016 quando o Brasil foi considerado país livre do sarampo pela Organização Pan–Americana de Saúde (OPAS), a maioria dos casos confirmados no Estado de São Paulo eram importados ou estavam relacionados com importação. O boletim epidemiológico do Centro de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo indica que foram registrados aproximadamente 50 casos confirmados importados ou relacionados com importação de sarampo entre 2001 e 2018 no Estado de São Paulo.

Os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que África e Europa são as regiões com o maior número de casos confirmados de sarampo até então em 2019 no mundo com mais de 100 mil diagnósticos e mais de 80 mil diagnósticos, respectivamente. O continente americano é a região com o menor número de casos confirmados de sarampo no período com 1.849 diagnósticos.

O Brasil está na sétima posição no ranking dos países com mais casos confirmados sarampo nos últimos 12 meses no mundo com mais de 9 mil diagnósticos, à frente de República Democrática do Congo e Cazaquistão e atrás de Madagascar, Ucrânia, Índia, Filipinas, Nigéria, Paquistão e Iêmen. O vírus em circulação no Brasil nos últimos doze meses apresenta o genótipo D8, o mesmo grupo que predomina na Europa e em alguns países da Ásia.

IMPORTÂNCIA DA VACINAÇÃO

Transmitido através de secreções respiratórias pelo vírus que pertence à família Paramyxoviridae e ao gênero Morbillivirus, o sarampo é altamente contagioso. A principal maneira de prevenir a doença é por meio da vacina. O esquema de vacinação no Brasil estabelece duas doses para as pessoas entre 01 ano e 29 anos de idade, sendo uma dose da vacina tríplice viral (vacina para sarampo, caxumba e rubéola) aos 12 meses e uma dose da vacina tetra viral (vacina para sarampo, caxumba, rubéola e varicela) aos 15 meses de idade.

De acordo com Lopes, o sarampo não acarreta maiores problemas para a população como um todo. Em compensação, o sarampo é uma doença grave para pacientes com o sistema imunológico comprometido como pessoas com neoplasia ou transplantes ou para recém–nascidos com o sistema imunológico em desenvolvimento. A vacina não é indicada para antes dos seis meses de idade.

“A eficácia da vacina é de 84% até os 09 meses de idade devido à imaturidade imunológica e aos resquícios dos anticorpos [anti–sarampo] maternos que combatem os vírus utilizados para a vacinação. O desempenho da vacina melhora aos 12 meses de idade com eficácia de 93% após a primeira dose e 97% após a segunda dose.”

Segundo a responsável pelo Centro de Imunizações do HCFMUSP, uma vacina com eficácia de 97% é considerada segura. Entretanto, grávidas e imunossuprimidos não podem ser vacinados porque os vírus vivos utilizados para a produção da vacina podem afetar os bebês no caso das grávidas ou causar doenças graves no caso dos imunossuprimidos.

“Não existe vacina 100% eficaz. Uma vacina com eficácia de 97% é praticamente 100% eficaz. Os pacientes que contraíram a doença depois de tomar a vacina e que não pertenciam ao grupo de risco provavelmente estavam entre os 3%. Para ser comercializada, uma vacina precisa ser segura. As adversidades existem, mas os benefícios se sobrepõem substancialmente aos malefícios”.

Em linha com o boletim epidemiológico do Centro de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo, indivíduos entre 15 anos e 29 anos de idade apresentam o maior número de casos confirmados no Estado de São Paulo atualmente. Por esse motivo, o município de São Paulo está fazendo uma campanha de vacinação de sarampo, caxumba e rubéola indiscriminada para pessoas de 15 a 29 anos de idade.

A cobertura de vacinação para sarampo, caxumba e rubéola caiu de praticamente 100% na primeira dose e 96% na segunda dose em 2014 para 90% na primeira dose e 81% na segunda dose em 2018 no Estado de São Paulo. A Campanha de Vacinação Contra o Sarampo termina em 16 de agosto de 2019, com a meta de atingir cobertura de 95% para a vacina tríplice viral. As informações são do Programa Nacional de Imunizações (PNI).

Marília Carrera | Comunicação LIMs

 

(Foto: Área de Comunicação Institucional dos LIMs)

 


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