EAR Parade quer chamar a atenção para a surdez

13 de maio de 2019

Exposição de orelhas gigantes tem como objetivo quebrar estigmas e preconceitos relacionados aos problemas de audição

Entre julho e agosto deste ano, São Paulo vai contar com uma intervenção inusitada: orelhas gigantes e coloridas serão espalhadas pela capital. Ao todo, são 65 esculturas com 2,40 metros, pintadas por diferentes artistas da cidade. A causa é nobre, chamar a atenção para os problemas auditivos que afetam até 10 milhões de brasileiros, sendo um milhão de pessoas com até 19 anos. E alertar sobre as possibilidades de diagnóstico e tratamento precoce.

“Também queremos mostrar por meio da arte o quanto é bonito esse sentido que temos”, acrescenta Paula Tardim, médica otorrinolaringologista e uma das organizadoras do evento.

A EAR Parade, nome da exposição, é o primeiro evento de arte urbana no mundo relacionado à saúde auditiva e é organizada pelo Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital das Clinicas da FMUSP e pela Fundação Otorrinolaringologia. Desde abril, os artistas vêm pintando as orelhas dentro do Shopping Frei Caneca. Com eles, médicos e fonoaudiólogos interagem com o público fornecendo informações e orientações sobre surdez.

“É um problema negligenciado pela sociedade em geral. E, por isso, muita gente se esconde nesse diagnóstico, não procura ajuda”, explica Paula, médica do Serviço de Otorrinolaringologia do HC/FMUSP. “Existe um preconceito muito grande em relação aos surdos”. Uma das consequências desse preconceito é a rejeição ao uso do aparelho por parte de quem sofre perda de audição grave ou severa.

Outro ponto levantado pela otorrino é a falta de cumprimento de políticas públicas aprovadas por lei. Uma delas é o Teste da Orelhinha, que deveria ser feito em todos os recém-nascidos, como o do Pezinho, mas apenas 56% das maternidades fazem.

Quanto antes a surdez for detectada, mais cedo é feita alguma intervenção, seja um implante coclear (dispositivo eletrônico acoplado na cabeça, próximo à orelha, que conecta com o cérebro), um aparelho convencional ou a educação da criança em Libras, a Linguagem Brasileira de Sinais. Outro direito não cumprido é justamente a presença de um intérprete de Libras nas salas de aula, Decreto Federal de 2005 que está longe de ser uma realidade.

A EAR Parade também quer abordar a prevenção. Hoje, de acordo com Paula, os casos de perda auditiva vêm crescendo entre crianças e jovens. No primeiro grupo, por causa da falta das vacinas básicas da primeira infância – doenças como caxumba e sarampo podem ter a surdez como sequela. Entre os jovens, o problema são os fones de ouvido, uma verdadeira epidemia. “Quando se passa muito tempo com o fone, a um volume acima do considerado saudável, uma lesão contínua machuca as células da audição”, explica a especialista.

Entre os mais velhos, a perda da audição é um processo natural e gradual. No entanto, casos mais severos podem levar a outros problemas de saúde, como o as demências, por causa do isolamento que a surdez provoca.

A exposição começa no dia 24 de julho e termina dia 22 de agosto. No dia 29 de agosto, durante o Congresso da Fundação Otorrinolaringologia, haverá um leilão com as peças. O dinheiro arrecadado será revertido para instituições de atendimento para surdos e para quem faz pesquisa na área, como o LIM 32 (Laboratório de Otorrinolaringologia).

A ideia é que outras cidades, e quem sabe outros países, também realizem a EAR Parade. “Essa causa não é só nossa, é de todos os otorrinos”, finaliza Paula.

Saiba mais: earparade.com.br

 

Débora Rubin | Comunicação LIMs

Algumas das orelhas que vão fazer parte da Ear Parade (Crédito: Paula Tardim)

 

 

 

 

 

 

Algumas das orelhas que vão fazer parte da Ear Parade (Crédito: Paula Tardim)

 

Algumas das orelhas que vão fazer parte da Ear Parade (Crédito: Paula Tardim)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Desenvolvido e mantido pela Disciplina de Telemedicina do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da USP