Laboratório de Ginecologia Estrutural e Molecular (LIM 58) Avança para a Descoberta de Biomarcadores e Terapias–Alvo para Tumores Uterinos

18 de fevereiro de 2020

No primeiro seminário científico do ano, Aspectos Moleculares dos Tumores Mesenquimais Uterinos, a pesquisadora Katia Carvalho apresentou estudos desenvolvidos no grupo de pesquisa do Hospital das Clínicas

Créditos: Comunicação LIMs

Na quarta–feira (12/02), os Laboratórios de Investigação Médica (LIMs) promoveram o seminário científico Aspectos Moleculares dos Tumores Mesenquimais Uterinoscom a pesquisadora do Laboratório de Ginecologia Estrutural e Molecular (LIM 58) Katia Candido Carvalho. Os tumores mesenquimais uterinos podem ser benignos ou malignos. Os leiomiomas são os tumores mesenquimais uterinos benignos mais comuns, afetando até 80% das mulheres em idade reprodutiva e sendo a primeira indicação para histerectomias e a segunda indicação para procedimentos cirúrgicos ginecológicos no Brasil e em outros países. A principal complicação é a infertilidade. Enquanto os sarcomas são os tumores mesenquimais uterinos malignos mais frequentes, correspondendo a até 7% de todas as neoplasias no útero e 1% de todos os tumores no aparelho genital feminino. A estimativa é de 2.800 mortes por ano no mundo.

“Os tumores uterinos podem ser de origem epitelial — que é mais comum — ou de origem mesenquimal — que é menos frequente em função da taxa de renovação deste tipo de tecido. Do ponto de vista histológico, os tumores mesenquimais uterinos podem ser puros — como os leiomiomas, os leimiossarcomas e os sarcomas do estroma endometrial — ou mistos — como os adenosarcomas e os carcinosarcomas. Os tumores mesenquimais uterinos podem ser benignos — no caso dos leiomiomas — ou malignos — no caso dos sarcomas”, afirmou Carvalho.

“Os adenossarcomas e os sarcomas do estroma endometrial de baixo grau são tumores de melhor prognóstico, com altas taxas de sobrevida. Já os sarcomas do estroma endometrial de alto grau, os sarcomas indiferenciados e os leimiossarcomas são tumores de pior prognóstico, com baixas taxas de sobrevida. O estadiamento cirúrgico é o aspecto mais importante para o prognóstico das pacientes e a sobrevida varia de 17% a 50%, dependendo do tipo histológico diagnosticado”, acrescentou a pesquisadora do LIM 58.

“Existem algumas dificuldades para o manejo clínico e também para o estudo dos sarcomas uterinos. Isto se deve principalmente às características biológicas complexas e heterogêneas, sua etiologia, fatores de risco e origem incertos e à falta de marcadores para o diagnóstico e para a terapia–alvo. Existem também poucos estudos na literatura médica. Isto se deve à inespecificidade dos marcadores e à raridade dos tumores. Então, a caracterização dos mecanismos moleculares envolvidos no desenvolvimento dos sarcomas uterinos pode auxiliar a descoberta de marcadores para seu diagnóstico diferencial, prognóstico e tratamento”.

Estudos Genéticos

Entre as linhas de pesquisa do LIM 58, estão os Estudos de Vias de Sinalização, os Estudos Epigenéticos e os Estudos Genéticos. Em relação aos Estudos Genéticos, a dissertação de mestrado de Leonardo Tomiatti da Costa, com base na análise genética de 20 amostras de sarcomas uterinos, distribuídas entre 7 leimiossarcomas, 7 sarcomas do estroma endometrial, 5 carcinossarcomas e 1 adenossarcomas, identificou 22 alterações genéticas específicas para carcinossarcoma, 21 para leimiossarcoma, 16 para sarcoma do estroma endometrial e 9 para adenossarcoma. Os genes que apresentaram alterações genéticas comuns para os sarcomas uterinos foram TP53, ATM e PIK3CA. Os resultados estão sendo validados na tese de doutorado de Laura Gonzalez dos Anjos, especificamente para os sarcomas de músculo liso (leiomioma, leimiossarcoma e sarcomas do estroma endometrial).

Estudos Epigenéticos

Em relação aos Estudos Epigenéticos, a dissertação de mestrado de Laura Gonzalez dos Anjos, por meio da elaboração de um perfil genético para cada tipo de sarcoma uterino, investigou o papel de 84 sequências de microRNAs no prognóstico das pacientes, tendo em vista as metástases, as recidivas e a resposta ao tratamento (sobrevida global e sobrevida livre de progressão). Os perfis genéticos foram testados em linhagens celulares in vitro de leiomioma, leimiossarcoma e sarcomas do estroma endometrial, que apresentaram 24 microRNAs em comum com as pacientes. Os resultados também estão sendo validados na tese de doutorado de Bruna Cristine de Almeida, que envolve a manipulação genética de potenciais biomarcadores para o diagnóstico diferencial, o prognóstico e o tratamento dos sarcomas uterinos.

Estudos de Vias de Sinalização

Em relação aos Estudos de Vias de Sinalização, as pesquisas se desmembram entre as chamadas via do Sonic Hedgehog e via do FOXO3. “Chegamos ao FOXO3 por meio de um trabalho de screening de genes diferencialmente expressos na plataforma OpenArray, que permitiu avaliar 223 genes, de 80 amostras de leiomiomas, 54 amostras de leiomiossarcomas, 16 amostras de leiomiomas atípicos, mais o grupo controle de sarcomas do estroma endometrial. Encontramos uma lista de genes, na qual o FOXO3 aparecia no topo, sendo 30 vezes nos leimiossarcomas e 17 vezes nos leiomiomas atípicos. O resultado não foi o que estávamos esperando, uma vez que o FOXO3 era considerado supressor de tumor. O experimento foi realizado outras vezes, mas o resultado permaneceu o mesmo. Isto despertou em nós o interesse em continuar estudando esta molécula”, explicou Carvalho.

“Em seguida, validamos a expressão do FOXO3 por imunohistoquímica. Fizemos a análise da expressão do FOXO3 normal — que apresenta expressão nuclear — e do FOXO3 fosforilado — que apresenta expressão citoplasmática. Para o FOXO3 normal, encontramos maior expressão nos leiomiomas atípicos e nos leimiossarcomas. Para o FOXO3 fosforilado, também encontramos expressão maior nos leiomiomas atípicos e nos leimiossarcomas, mas principalmente nos leiomiomas atípicos. O próximo passo foi a busca por fármacos que inibissem a fosforilação do FOXO3, restaurando sua função nas células. Encontramos a metformina — substância bastante conhecida, utilizada em uma série de outras doenças — e a genisteína — substância também bem estabelecida, presente na soja”, continuou a pesquisadora do LIM 58.

“Para a metformina, identificamos uma redução significativa da área migrada para o leiomioma e para o leiomiossarcoma após 24 horas. Para a genisteína, identificamos uma redução significativa da área migrada para o leiomioma, mas o efeito foi deletério para o leiomiossarcoma depois das 24 horas. Posteriormente, fizemos uma análise da indução de apoptose das células. Observamos aumento nas taxas de células apoptóticas para os leiomiomas. Para os leiomiossarcomas, não observamos aumento na taxa de apoptose, mas as células apresentaram taxas aumentadas de morte. Os resultados foram bastante animadores, uma vez que a metformina e a genisteína tiveram efeitos muito bons”. Os resultados fazem parte das dissertações de mestrado de Thais Gomes de Almeida e Ana Maria Ricci.

Um dos estudos mais antigos do grupo de pesquisa do LIM 58 é o estudo sobre a via do Sonic Hedgehog, iniciado por Natalia Garcia. O objetivo do trabalho de Natalia Garcia era analisar a expressão dos principais componentes da via do Sonic Hedgehog em amostras de sarcomas uterinos, distribuídas entre 80 leiomiomas, 54 leiomiossarcomas, 20 miométrios e 16 leiomiomas atípicos. Entre os 8 marcadores avaliados, se destacaram GLI1 e SMO porque são proteínas, para as quais existem terapias–alvo para outros tipos de tumores aprovadas pela Food and Drug Administration (FDA), que mostraram expressão aumentada nas amostras de pacientes e em linhagens celulares in vitro de leiomiomas e leimiossarcomas. Entre os diversos bloqueadores de GLI1 e SMO testados, também se sobressaíram LDE225 e GANT61. Foram realizados ensaio de invasão e ensaio de migração com LDE225 e GANT61. Passadas 72 horas, a ação dos bloqueadores de GLI1 e SMO foi significativa para os leimiomas atípicos e para os leimiossarcomas. Inclusive, em resultados obtidos in vivo por meio da indução de leiomiossarcoma em camundongos.

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Por Marília Carrera / Comunicação LIMs


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