O vírus silencioso

14 de fevereiro de 2019

Seminário LIMs de Fevereiro apresentou o HTLV e os esforços da comunidade médica e científica para torná-lo mais conhecido

O médico patologista Jorge Casseb estuda o vírus HTLV há mais de 20 anos. Foi um dos idealizadores do Ambulatório de HTLV, criado em 1997, no Instituto de Infectologia Emílio Ribas. Desde então, vem desenvolvendo um estudo sólido e sistemático sobre o tema, inclusive em parceria com pesquisadores de outros países. No entanto, a atenção dada ao que ele chama de “primo pobre” do HIV é sempre a mesma: quase nula. Por ser negligenciado pela comunidade médica e pelas políticas públicas, há grande chance de muitos portadores nem saberem que têm o HTLV no organismo.

Estima-se que quase um milhão de pessoas esteja infectada só no Brasil (10 milhões no mundo). Sua presença no organismo traz consequências até fatais, mas poucas pessoas conhecem o vírus de células T humanas e seus efeitos no corpo. Muitas só se descobrem portadoras quando fazem doação de sangue.

“Fizemos um cálculo aproximado e chegamos à conclusão de que seis mil recém-nascidos podem ser infectados. Isso porque mães lactantes podem ter o vírus sem saber e transmiti-lo aos filhos durante a amamentação”, destacou Casseb durante sua palestra “HTLV: um vírus negligenciado”, no Seminário Científico de Fevereiro, realizado dia 13, na Faculdade de Medicina da USP.

Em sua explanação, Casseb, que é do LIM 56 (Laboratório de Investigação em Dermatologia e Imunodeficiências) e professor associado da FMUSP, falou brevemente sobre a história dos retrovírus, do início do século XX até a atual epidemia de HTLV pelo mundo. Além de explicar como ele age no organismo, o palestrante falou também sobre as consequências do vírus no corpo.

Existem dois tipos do vírus: o HTLV-1 e o HTLV-2. Até 5% de quem tem o primeiro poderá desenvolver doenças neurológicas degenerativas e hematológicas, como a leucemia e o linfoma de células T humana do adulto (ATL). Sobre o HTLV-2, ainda não se sabe muito a respeito, mas, a princípio, não leva a nenhuma doença.

O médico falou ainda sobre os tratamentos existentes – no caso das doenças neurológicas, o uso de corticoides – e das ações necessárias para a diminuição de sua incidência. “É preciso um maior conhecimento do público em geral, em especial dos profissionais de saúde”, finalizou Casseb. Uma das iniciativas nesse sentido foi a criação do Dia Mundial de Combate ao Vírus HTLV, no dia 10 de novembro. Fazer o teste em familiares de portadores, por exemplo, e evitar que as mães soropositivas amamentem, são algumas das ações propostas pelo pesquisador.

Os Seminários Científicos são organizados pela Comissão Científica e pela Diretoria Executiva dos Laboratórios de Investigação Médica (LIMs). São realizados sempre na segunda quarta-feira do mês e contam com palestrantes de áreas diversas da pesquisa científica dos LIMs. O próximo será no dia 13 de março.

 

Débora Rubin | Comunicação LIMs

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