Pesquisadora do LIM 43 realiza pesquisa de Pós-Doutorado sobre câncer de próstata em Hospital de Nova Iorque

13 de dezembro de 2017

Camila Maria Longo Machado, pesquisadora do Laboratório de Medicina Nuclear (LIM 43), passou dois anos estudando um campo da oncologia no Memorial Sloan Kettering Cancer Center, hospital em Nova Iorque, nos Estados Unidos. No primeiro ano, ela conseguiu uma bolsa da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e no segundo, ela continuou o projeto com uma bolsa da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).

Machado, que voltou no último mês de outubro, foi para a instituição realizar um estudo sobre vesículas extracelulares em câncer de próstata. Ela explica que as microvesículas são uma modificação da própria célula tumoral, que começa a fazer brotamentos dela mesma, mas não exatamente do mesmo tamanho que ela: são pequenas partículas de 100nm a 1um de diâmetro. Na célula tumoral esse processo é mais intenso do que na célula normal e do sistema imune.

“Essa vesícula especial vai fazer com que o sistema imune não enxergue o tumor crescendo dentro do organismo. Mais do que isso, já começou a ser evidenciado, que as células tumorais produzem essas pequenas vesículas, que são distribuídas no organismo e muito tardiamente, as células que vão sair desse tumor primário, as metástases, vão acontecer exatamente nos lugares em que essas microvesículas chegaram, pararam e modificaram o ambiente. A gente fala que as vesículas, na verdade, modificam os ambientes ou os órgãos, ou os tecidos, para que as células tumorais alcancem esse espaço especial e modificado para que ela cresça nesse pequeno local. Então, quanto mais a gente souber sobre essas vesículas, mais chance a gente tem de cortar esse processo no meio ou eventualmente, interromper ou fazer um diagnóstico desse local especial ainda anterior a qualquer célula do tumor primário sair e ir para esse local especial”, explica a pesquisadora.

A pesquisadora Camila Machado passou dois anos em Nova Iorque realizando pesquisa sobre o câncer de próstata (Foto: Arquivo pessoal de Camila Maria Longo Machado).

A pesquisadora Camila Machado passou dois anos em Nova Iorque realizando pesquisa sobre o câncer de próstata (Foto: Arquivo pessoal de Camila Maria Longo Machado).

O objetivo da pesquisa de Machado foi entender a biologia das vesículas do câncer de próstata estudando uma molécula que em específico, é muito conhecida para esse tipo de tumor – e que ainda tem muito pouco estabelecido a respeito –, a proteína PSMA – Prostate Specific membrane Antigen (Proteína de Membrana especifica da Próstata, em português). A partir desse estudo ela descobriu que as microvesículas são enriquecidas nessa proteína e vão para os sítios chamados de pré-metastático (nos quais a metástase ainda não aconteceu, mas favorecem o estabelecimento dela). Nesse sítio pré-metastático, a vesícula modifica o ambiente para fazer mais angiogênese – componente essencial do caminho metastático, pois como desenvolve vasos sanguíneos novos a partir de vasos já existentes, eles permitem que as células cancerosas saiam do local original do tumor e espalhem-no aos órgãos distantes através do sangue. “Então o que eu acabei descobrindo é que com a PSMA no câncer de próstata, as células fazem mais angiogênese, por causa dessas microvesículas”, declara.

Futuro

A pesquisadora afirma que foi estudar a proteína PSMA, no contexto das microvesículas com o objetivo de, no futuro, conseguir criar uma molécula ou uma partícula que reconheça e bloqueie a PSMA, levando a um tratamento aos pacientes com câncer de próstata. Ela já iniciou o projeto em Nova Iorque, mas vai conduzir a experimentação aqui, com a ajuda da equipe do LIM 43. O projeto está em processo de levantamento de recursos com o auxílio do professor Carlos Alberto Buchpiguel, responsável pelo laboratório. “O trabalho que a Camila Machado desenvolveu no Memorial abriu uma perspectiva e um leque de investigação que vem exatamente se espelhar em uma nova linha de trabalho que nós estamos desenvolvendo aqui no tratamento do tumor de próstata. […] Nós vamos tentar trabalhar num conceito extremamente inovador utilizando a expertisse que ela desenvolveu lá fora no estabelecimento da sua rede de relacionamento com pesquisadores lá no Memorial”, afirma Buchpiguel.

Machado lembra que em oncologia, na parte de Medicina Nuclear, para identificar lesões é utilizado o PET (Tomografia por emissão de positrões) com FDG, que é uma glicose especial injetada no paciente, que tem pendurada um radioisótopo, um flúor radioativo que permite que um aparelho identifique lesões que estão ávidas por glicose. Normalmente, essas lesões são os tumores e as metástases. “Então, isso já é usado e isso é um pouco inespecífico, porque qualquer uma das duas lesões poderia captar esta glicose modificada, bem como o tecido inflamatório. Além disso, existem órgãos que são ávidos por glicose que também captam esse traçador, por exemplo, o cérebro, não que o cérebro esteja doente, ele tem uma avidez por glicose que é o metabolismo do próprio órgão. Então, apesar de funcional e de já estar sendo usada no mundo inteiro para diagnosticar alguns tipos específicos de metástases em oncologia, é ainda muito inespecífico”, explica Machado.

A pesquisadora também está no processo de publicação de trabalhos. Ela está finalizando a análise da sua pesquisa de Pós-Doutorado para a publicação de alto impacto numa revista do Grupo da Revista Nature. A segunda publicação, será de um artigo referente a um trabalho no qual colaborou com um colega do Memorial Sloan Kettering Cancer Center sobre nanopartículas, parecidas com as microvesículas, mas feitas em laboratório. “Ele faz marcação radioativa numa nanopartícula que identifica o câncer de colorretal, sem invasividade, só por imagem de PET. E mostra o nível de desenvolvimento do tumor para favorecer o tratamento. Esse trabalho vai entregar tratamento quimioterápico direcionado para as lesões locais, mas também para as metastáticas. Assim que ele finalizar os últimos testes com as drogas, a gente publica”, afirma.

Experiência

A pesquisadora planeja apresentar um tratamento para o câncer de próstata com membros da equipe do LIM 43 (Foto: Arquivo pessoal de Camila Maria Longo Machado).

A pesquisadora planeja apresentar um tratamento para o câncer de próstata com membros da equipe do LIM 43 (Foto: Arquivo pessoal de Camila Maria Longo Machado).

Camila Maria Longo Machado conta que uma das experiências que teve em Nova Iorque foi participar do Congresso da Sociedade Mundial de Imagem Molecular (World Molecular Imaging Congress – WMIC, em inglês). No segundo ano, ela apresentou um trabalho em formato de pôster também no mesmo congresso, na Filadélfia.

Machado declara que a experiência toda foi excepcional. Ela lembra que pelo Memorial Sloan Kettering Cancer Center pôde aperfeiçoar seu inglês, que antes, era de nível básico, assim como teve a possibilidade de crescer como pesquisadora. “Eu tive a oportunidade de trocar muita ciência, ter muita conversa e desenvolver uma rede de interação e amizades com os grandes cientistas da área na qual eu estou inserida, que é essa área de imagem e diagnóstico, que tem uma chance muito grande de ser aplicada em pacientes. A gente tem condições de desenvolver alguma coisa dessa área aqui dentro do Brasil. Então a experiência lá não foi só engrandecedora no sentido científico. Eu voltei muito feliz, porque a gente tem aqui, principalmente na Faculdade de Medicina, estrutura de equipamentos, pesquisadores (as grandes mentes) e alunos de Medicina que são especiais. […] Uma coisa que bastante gente me pergunta é por que eu voltei. Todo mundo tem essa curiosidade. Eu voltei porque eu realmente acredito que a gente tem não só estrutura como pessoal e que a gente tem que trazer o conhecimento para cá. Eu trago isso da minha família de achar que a gente tem que crescer o lugar onde a gente está. Então ir para lá foi buscar conhecimento e experiência para trazer para cá e alavancar a nossa pesquisa aqui”, enfatiza a pesquisadora.

O professor Carlos Alberto Buchpiguel concorda com Machado. “Essa experiência é importante para estabelecer parcerias e networking de pesquisa com grupos internacionais com um reconhecimento científico de altíssima qualidade, como é o grupo do Memorial. Em primeiro lugar, é buscar parcerias que nos ajudem a desenvolver certos programas de pesquisa dentro do Brasil. A segunda coisa é dar oportunidade para um amadurecimento profissional e científico dos nossos pesquisadores em centros de pesquisa de excelência. E depois trazer esse conhecimento adquirido no exterior e implantá-lo aqui, para a melhoria dos nossos processos dentro da Universidade de São Paulo”, finaliza o responsável pelo LIM 43.

 


Desenvolvido e mantido pela Disciplina de Telemedicina do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da USP