SARS-CoV-2 inibe remoção de células mortas pelo sistema imune e isso favorece o dano pulmonar, diz estudo

19 de março de 2021

Karina Toledo | Agência FAPESP – Já é praticamente consenso entre os cientistas que o agravamento da COVID-19 está relacionado com um desequilíbrio na resposta imune ao SARS-CoV-2. No entanto, ainda não se sabe exatamente quais componentes do sistema de defesa estão atuando de forma desregulada nesses casos e por que isso acontece. Em estudo divulgado na plataforma meRxiv, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) sugerem respostas para uma parte do quebra-cabeça.

No artigo, ainda não revisado por pares, os autores descrevem como o contato com o novo coronavírus altera o funcionamento do macrófago – uma espécie de “gari” do sistema imune encarregado de eliminar, por meio da fagocitose, restos de células mortas e outras partículas estranhas ao organismo.

Por meio de experimentos in vitro, os cientistas descobriram que, ao internalizar uma célula infectada pelo SARS-CoV-2 ainda ativo, o macrófago passa a produzir quantidades excessivas de moléculas pró-inflamatórias, o que pode contribuir para o quadro conhecido como tempestade de citocinas, observado em pacientes com a forma grave da doença. Além disso, de acordo com o estudo, a internalização de uma célula morta infectada reduz em até 12 vezes a capacidade do macrófago de reconhecer e fagocitar outras células mortas que eventualmente surgirem em seu caminho.

“Milhões de células morrem em nosso organismo todos os dias e elas precisam ser eliminadas de forma eficiente. Caso contrário, poderiam ser interpretadas como um sinal de perigo ou gerar autoantígenos, favorecendo o surgimento de doenças autoimunes. No caso do pulmão afetado pelo SARS-CoV-2, a remoção contínua das células mortas pelos macrófagos é essencial para a regeneração do tecido. Se a presença do vírus em uma célula fagocitada subverte essa função dos macrófagos, possivelmente contribui para o dano tecidual extenso característico da COVID-19”, diz à Agência FAPESP Larissa Cunha, professora da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP) e coordenadora da pesquisa, que contou com financiamento da FAPESP.

Evidências preliminares

Os primeiros testes descritos no artigo foram feitos com duas linhagens de células epiteliais – uma originária de pulmão humano (Calu-3) e outra de rim de macaco (Vero CCL81, um dos principais modelos para estudo do SARS-CoV-2) –, que foram infectadas in vitro com o novo coronavírus. Os pesquisadores observaram que a infecção ativa na célula epitelial um processo conhecido como apoptose – um tipo de morte celular programada que, normalmente, não desperta uma resposta inflamatória no organismo.

Paralelamente, em outro conjunto de células epiteliais, os pesquisadores induziram a apoptose por meio de radiação ultravioleta.

As células apoptóticas de ambos os grupos (infectadas com o coronavírus e expostas à radiação) foram coletadas e colocadas para interagir com culturas de macrófagos derivados de monócitos humanos (um dos tipos de leucócitos do sangue).

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