De acordo com estudo do Laboratório de Investigação em Reumatologia (LIM 17), genes que influenciam negativamente a atividade neuromuscular e as reações inflamatórias no organismo podem propiciar fraturas vertebrais osteoporóticas em mulheres idosas.

Levi Higino Jales Neto. Créditos: Laboratórios de Investigação Médica (LIMs) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP)
Em decorrência do envelhecimento da população em escala global, a osteoporose se torna uma importante questão de saúde pública no século XXI. Os dados do Censo Demográfico de 2010 indicam que há cerca de 203 milhões de habitantes no Brasil atualmente, dos quais 20% tem 50 anos ou mais e 4,3% tem 70 anos ou mais. As estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram também que haverá em torno de 260 milhões de habitantes no Brasil em 2050, com a parcela da população com 50 anos ou mais subindo de 20% para 37% e a parcela da população com 70 anos ou mais subindo de 4,3% para 14%. Em 2050, a expectativa de vida atingirá 80 anos no país como um todo.
Em um cenário em que 10 milhões de pessoas sofrem com a osteoporose no Brasil, em linha com a Organização Mundial da Saúde (OMS), os Laboratórios de Investigação Médica (LIMs) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) promoveram o seminário científico “Estudo Genético por MicroArray na Fratura Vertebral Osteoporótica em Mulheres Idosas”, com o pesquisador do Laboratório de Investigação em Reumatologia (LIM 17) Levi Higino Jales Neto, no dia 14 de agosto. O tema do seminário científico está relacionado com a tese de doutorado do médico reumatologista, orientada pela pesquisadora do LIM 17 e professora da FMUSP Rosa Maria Pereira.
A osteoporose é causada pela diminuição da Densidade Mineral Óssea (DMO), que aumenta as chances de fraturas principalmente entre mulheres com mais de 50 anos. “A fratura vertebral osteoporótica é uma manifestação muito comum em mulheres idosas, que causa dor e limitação da movimentação. Em algumas pacientes com deformidade intensa da coluna torácica, a fratura vertebral osteoporótica também gera limitação da expansão pulmonar. Isto causa o aumento da morbidade e da piora da qualidade de vida destas pessoas, além da elevação do custo sócio–econômico e da mortalidade indiretamente”, considerou Levi Higino Jales Neto.
De acordo com o estudo The Burden of Osteoporosis in Four Latin American Countries: Brazil, Mexico, Colombia, and Argentina, publicado este ano na revista científica Journal of Medical Economics, o Brasil gasta 310 milhões de dólares anualmente com a osteoporose com base em valores de 2018. “O principal problema da osteoporose é a fratura. O custo da fratura osteoporótica é muito grande. Por exemplo, a fratura de fêmur tem o custo da cirurgia, o custo da hospitalização e o custo da reabilitação. Outro ponto é que com as fraturas osteoporóticas os pacientes que eram independente acabam se tornando dependentes, o que está relacionado com a morbidade e a mortalidade indiretamente”, afirmou Rosa Maria Pereira.
Segundo a Auditoria Regional da América Latina,
realizada pela International Osteoporosis Foundation (IOF), a maior incidência de osteoporose ocorre entre mulheres na fase pós–menopausa. “Em primeiro lugar, a estrutura óssea das mulheres normalmente é menor que a estrutura óssea dos homens. Os hormônios estrogênio e testosterona são importantes para manter a quantidade de osso [o estrogênio e a testosterona contribuem para manutenção da massa óssea]. As mulheres perdem estrogênio rapidamente na menopausa, o que resulta na perda óssea. Os homens também perdem testosterona, mas muito mais lentamente”, acrescentou Pereira.
Herança de Família
A diminuição da DMO aumenta em até cinco vezes o risco de fratura vertebral osteoporótica. Entretanto, a ausência de fraturas na coluna vertebral em pacientes com massa óssea reduzida sugere que existem outros fatores que favorecem a fratura vertebral osteoporótica. “Neste estudo buscamos entender melhor a fisiopatologia da fratura vertebral osteoporótica, além de investigar possíveis preditores de risco para a fratura vertebral osteoporótica e alvos terapêuticos, independentemente da Densidade Mineral Óssea. Para isto identificamos por meio da técnica MicroArray e validamos por meio da técnica PCR Quantitativo em Tempo Real marcadores genéticos moleculares [os marcadores genéticos ajudam a identificar diferenças genéticas entre dois ou mais indivíduos] entre mulheres idosas com fratura vertebral osteoporótica”, descreveu Levi Higino Jales Neto.
Entre os desencadeadores da fratura vertebral osteoporótica estão fatores sociais e ambientais como alcoolismo, tabagismo, doenças que influenciam o metabolismo ósseo, quedas e uso de corticoides (os corticoides afetam as células responsáveis pela formação óssea) e fatores genéticos como o histórico familiar. “Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos mostrou que o formato da coluna vertebral e o risco de fratura vertebral osteoporótica são fatores hereditários poligênicos [o formato da coluna vertebral e o risco de fratura vertebral são resultado da interação de vários genes], com um grau de hereditariedade de 43%”, exemplificou Higino.
A amostra do estudo é composta por 36 mulheres com osteoporose na faixa etária dos 80 anos, que apresentam DMO semelhantes. O estudo analisou a expressão gênica de 24 pacientes com fratura vertebral osteoporótica grau 2 e grau 3 e 12 pacientes sem fratura vertebral osteoporótica. Os genes validados por Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) foram SNTG2, TRAF3IP2 e ITGA6, o que significa que os três podem ter corroborado para a fratura vertebral osteoporótica entre as mulheres que participaram da pesquisa (a polimerase é uma enzima que atua na catalisação da síntese de DNA ou RNA, de modo que a técnica PCR permite a geração de várias cópias de uma determinada sequência de DNA ou RNA).
“Os músculos são responsáveis pela locomoção e proteção do corpo humano. Se os músculos estão fragilizados, os ossos são sobrecarregados. Como o SNTG2 está relacionado com a placa neuromuscular que conecta os músculos e os nervos, a influência negativa do gene sobre os músculos pode aumentar as chances de fraturas”, explicou Higino. “Em doenças inflamatórias, as proteínas responsáveis pela inflamação podem comprometer a estrutura óssea. Quanto mais susceptível está o organismo à inflamação, mais susceptível está o organismo às fraturas também. Tanto o TRAF3IP2 quanto o ITGA6 estão relacionados com processos inflamatórios. Enquanto o ITGA6 está relacionado com a adesão de substâncias às células inflamatórias que entram nos tecidos, o TRAF3IP2 está relacionado com a amplificação da reação inflamatória pelo aumento do número de células inflamatórias”.
Marília Carrera| Comunicação LIMs