Professor titular do Departamento de Radiologia e Oncologia, Carlos Alberto Buchpiguel falou sobre pesquisas do LIM 43 para a detecção precoce do câncer de mama e da doença de Alzheimer
No último Seminário Científico do semestre, o pesquisador do Laboratório de Medicina Nuclear (LIM 43) e Professor Titular do Departamento de Radiologia e Oncologia, Carlos Alberto Buchpiguel, abordou a Imagem Molecular na Era da Medicina de Precisão. Medicina de precisão é o conjunto de cuidados médicos que tem por objetivo otimizar o tratamento por meio das características genéticas ou moleculares de uma determinada doença, em um determinado tempo e paciente em específico.
“Inicialmente, avaliávamos os aspectos anatômicos do indivíduo utilizando raio–X, ressonância magnética, tomografia ou ultrassom. Em seguida, passamos para os aspectos fisiológicos do organismo. O desafio é levar a patologia para o Diagnóstico Molecular por meio de imagens com marcadores específicos”, explicou Buchpiguel.
“No microscópio, você tem uma célula parada sem interposição de órgãos ou tecidos. Na imagem, você tem um indivíduo que está respirando com uma série de órgãos e tecidos que se interpõem e sem uma resolução microscópica. A acurácia diagnóstica é a grande questão da imagem molecular”.
A imagem molecular contribui para detectar mudanças em órgãos e tecidos precocemente e, assim, evitar cirurgias ou outros procedimentos de alto custo quando eles não irão agregar resultado de valor ao paciente. Em algum momento, durante a avaliação inicial do paciente, é importante saber se o câncer já se disseminou para outras partes do corpo, principalmente quando os métodos convencionais de imagem não conseguem fazer esse diagnóstico. Pois, nessas situações, a realização de procedimentos cirúrgicos ou de intervenção com intenção curativa não fazem mais sentido e, portanto, poderia ser considerada como intervenção inútil ou desnecessária.
“Em pacientes com câncer de próstata de alto risco ou risco intermediário/alto, em fase de estadiamento inicial, pode-se observar uma taxa elevada de resultados falso-negativos do grau de comprometimento linfonodal regional. A imagem molecular com emprego de um novo biomarcador, o PSMA marcado com Gálio-68, pode mostrar detecção de envolvimento em linfonodos anatomicamente normais em até 60% dos casos”, afirmou o pesquisador durante sua apresentação.
“Em pacientes já tratados, e com sinais de recidiva bioquímica da doença, porém sem detecção do local de recidiva pela imagem convencional, pode haver esse diagnóstico estabelecido em até 90% dos casos quando o nível de PSA sanguíneo está acima de 2.0. Mesmo com níveis de PSA muito baixos, de até 0.5, pode-se detectar o local da recidiva, o que irá orientar o melhor tratamento a ser adotado em até 50% dos pacientes”.
Sobre o câncer de mama, o professor antecipou que está em elaboração no LIM 43 um projeto de pesquisa para mapear in vivo os receptores hormonais de estrógeno. Uma forma de aperfeiçoar o monitoramento das pacientes, em especial na fase metastática, quando pode ocorrer a perda da expressão do receptor hormonal e as pacientes, portanto, respondem discretamente ou não respondem mais ao tratamento com bloqueador de receptor hormonal.
Embora o diagnóstico molecular tenha se desenvolvido primeiramente na Oncologia, a medicina de precisão tem evoluído entre outras especialidades médicas, como a Neuropsiquiatria. O LIM 43, em parceria com o LIM 21, formulou um projeto de pesquisa para a produção de um composto marcado com carbono 11, que detecta um dos componentes principais da assinatura patológica da doença de Alzheimer, que é a presença de depósito amilóide (placas amilóides) no cérebro dos pacientes acometidos por esta enfermidade.
“O diagnóstico clínico para a doença de Alzheimer falha em uma proporção não insignificante, porém continua sendo o padrão ouro porque não é possível fazer biópsia do cérebro. O paciente com Alzheimer possui três marcas registradas: acúmulo de placas senis, bandas neurofibrilares e atrofia neuronal. Em Neuropsiquiatria, um biomarcador consegue detectar quantidades anormais de proteína amilóide depositada no cérebro, que é responsável pela formação das chamadas placas senis no cérebro”, detalhou o professor.
Desafios econômicos
Um tema que permeou o seminário “Imagem Molecular na Era da Medicina de Precisão” foi como aproximar a academia da sociedade. O desenvolvimento da Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) esbarra em questões educacionais como a transferência de novos conhecimentos, metodologias e técnicas, em questões financeiras como o financiamento de novos projetos de pesquisa e, por fim, em questões políticas como o direcionamento de mais ou menos recursos para CT&I.
“Se o conhecimento científico não acessa o mercado, qual é o benefício para a sociedade? A academia não tem recursos para aplicar o conhecimento desenvolvido na prática. Não é a obrigação da academia também. É por isso que a associação entre academia e empresas é extremamente interessante”, destacou Buchpiguel.
“Para se desenvolver um fármaco, leva-se dez anos e são gastos milhões de reais. Para se desenvolver um radiofármaco não é diferente. Um marcador molecular é um medicamento, mas para uso diagnóstico. Não somos uma indústria, porém trabalhamos tão bem quanto uma indústria. A diferença é que não temos os mesmos recursos”, frisou.
Entre as dificuldades enfrentadas por laboratórios acadêmicos está a falta de recursos para a realização de ensaios clínicos com grandes amostras populacionais. O grau de evidências científicas para o tratamento do câncer no Brasil é instituído por órgãos regulatórios como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Entretanto, médicos, pesquisadores e outros profissionais da área da saúde questionam a adequação, o custo e os resultados de determinadas terapias, considerando os modelos atuais empregados para geração de estudos de evidência com grandes amostras populacionais, principalmente na era da medicina de precisão ou personalizada.
“Em alguns tratamentos, a sobrevida é aumentada em média três dias, cinco dias ou alguns poucos meses em detrimento de um custo gigantesco. A avaliação do perfil de instabilidade cromossômica ou molecular permitiria selecionar melhor os pacientes para as terapias. Inicialmente, o custo pode ser maior. Só que na cadeia final, o custo com certeza será menor”.
O evento contou com a apresentação do Applied Sciences Trail Roche (ASTRo), programa voltado para a aceleração de grupos de pesquisa vinculados a Institutos de Ciência e Tecnologia (ICT). O programa proporciona a definição do plano de negócio, o desenho de proposta de valor, a mentoria com gestores do mercado, o plano de comercialização e o plano experimental e de pesquisa para o desenvolvimento de tecnologias que podem ser compostos, dispositivos, moléculas ou procedimentos na área médica e da saúde.
Os Seminários Científicos são organizados pela Comissão Científica e pela Diretoria Executiva dos Laboratórios de Investigação Médica (LIMs). São realizados sempre na segunda quarta-feira do mês e contam com palestrantes de áreas diversas da pesquisa científica dos LIMs.
Atenção: em julho não haverá Seminário.
Marília Carrera e Débora Rubin | Comunicação LIMs