Técnica modifica proteína do veneno de cascavel e permite criar fármaco que modula a coagulação sanguínea

23 de novembro de 2021

André Julião | Agência FAPESP – Pesquisadores do Brasil e da Bélgica desenvolveram uma molécula de interesse farmacêutico a partir de uma proteína encontrada no veneno da cascavel, a PEG-collineína-1. Ao aplicarem uma técnica que a torna mais estável no organismo e resistente ao sistema imune, os cientistas obtiveram um potencial novo fármaco capaz de modular a coagulação sanguínea.

Resultados da pesquisa foram publicados recentemente no International Journal of Biological Macromolecules.

“A técnica tem como objetivo manter a PEG-collineína-1 circulante no organismo por mais tempo, o que pode reduzir o intervalo entre as administrações caso se torne um medicamento. Além disso, reduz a degradação por componentes do organismo humano e melhora suas propriedades funcionais”, conta Ernesto Lopes Pinheiro Júnior, primeiro autor do artigo.

Atualmente pesquisador na Universidade Católica de Leuven, na Bélgica, Pinheiro-Júnior realizou o trabalho durante seu doutorado na Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FCFRP-USP), com bolsa da FAPESP.

Chamada de peguilação, a técnica consiste em agregar polietilenoglicol (PEG) à molécula de interesse. Entre outras propriedades, o PEG diminui a interação com o sistema imune, além de impedir a formação de agregados que diminuem a atividade da molécula pelo organismo.

“A peguilação é bastante comum na indústria farmacêutica. Há 19 medicamentos que utilizam a técnica já aprovados. Essa é a primeira vez, porém, que o método foi usado em uma toxina animal, na sua forma recombinante [produzida em laboratório por um fungo geneticamente modificado]”, diz Eliane Candiani Arantes, professora da FCFRP-USP e orientadora do estudo.

A pesquisadora coordena o projeto “Bioprospecção de toxinas animais com interesse biotecnológico a partir de ferramentas ômicas”, apoiado pela FAPESP.

Veneno e remédio

Obtida da peçonha de uma subespécie de cascavel, Crotalus durissus collilineatus, a collineína-1 consome o fibrinogênio, composto presente no sangue responsável pela coagulação.

No veneno da cascavel, ajuda a causar a hemorragia em quem é picado pela serpente. Isolada e administrada em pequenas doses, porém, pode impedir a formação de trombos que causam o acidente vascular cerebral (AVC), por exemplo.

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